segunda-feira, novembro 14, 2016

Detentores de dívida criticam Moçambique por "meter carroça à frente dos bois"

O grupo que representa a maioria dos detentores da dívida pública de Moçambique criticou hoje o Governo por "meter a carroça à frente dos bois", pedindo uma reestruturação antes de completar a auditoria à dívida.
"Nunca vi um país contemplar uma tentativa de reestruturação e meter a carroça à frente dos bois desta maneira", disse à agência de informação financeira Bloomberg o consultor que está a representar os interesses do grupo de detentores de 60% da dívida pública moçambicana, Charles Blitzer.
"É muito pouco usual, se não inédito, pedir negociações para alívio da dívida antes de a informação total estar disponibilizada e os contornos de um programa do FMI estarem definidos e disponíveis para os credores", acrescentou o antigo economista-chefe do Banco Mundial na década de 1990.
Para estes credores, uma eventual renegociação da dívida terá de ser feita depois de conhecidos os resultados da auditoria que a Kroll deverá concluir em fevereiro e depois de o FMI delinear um program de ajuda financeira com metas relativamente às finanças públicas moçambicanas.
Em causa está a iniciativa do ministro das Finanças de Moçambique, que no final do mês passado abordou os credores para tentar uma renegociação juntos dos credores da dívida pública (os chamados 'eurobonds' de 727 milhões de dólares) e dos empréstimos de cerca de 1,4 mil milhões de dólares das empresas públicas Mozambique Asset Management e Proindicus.
Moçambique assumiu a incapacidade de pagar a dívida externa, que prevê que chegue a 130% do PIB ainda este ano, e defendeu a necessidade de reestruturar os empréstimos, propondo que se chegue a um acordo com os credores em dezembro, para preparar um plano antes de janeiro, mês em que terá de desembolsar 60 milhões de dólares para o pagamento do cupão do 'eurobond', emitido em abril deste ano, e que resulta da conversão das obrigações da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum).
Se os credores recusarem, o país entrará em incumprimento financeiro ('default'), disse à Bloomberg a analista da Teneo Intelligence Anne Fruhauf, considerando que esta é a hipótese mais provável: "Um 'default' confirmaria que Moçambique, que já foi um promissor mercado de fronteira, vai de mal a pior".
Os clientes representados por Blitzer, que também foi vice-diretor do departamento de mercado monetário e de capital, incluem as financeiras AllianceBernstein, Franklin Templeton Investment Management, Greylock Capital Management, NWI Management e Pharo Management.

Fonte: LUSA – 14.11.2016

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